domingo, 17 de abril de 2011

Crônica de ponto de ônibus


Como todas as noites, encontrava-se à espera do ônibus que a levaria para casa. O vento frio, acompanhado pela chuva, tornavam à espera ainda mais doída. " Eta, vidinha mais sórdida." Bastava-lhe alguns minutos, apenas segundos, e teria conseguido realizar a baldeação.

Assim como ela, apenas mais três pessoas à espera de um transporte coletivo. Enquanto observa os poucos carros que transitam pela rua; os alunos que saem do cursinho, não percebe a chegada de uma nova companheira de espera, que pergunta-lhe ter visto passar o ônibus que a levaria até o bairro da Penha. Com olhos cansados de ver a vida passar, responde positivamente.

Passados alguns momentos, a senhora diz não suportar mais à espera. Afirma ser mais rápido chegar ao seu destino, se for a pé. " Na verdade, basta atravessar a ponte, subir uma ruazinha, mais outro morrinho e lá estarei no destino desejado."

- Vai para casa? Está meio tarde, frio, chove, liga para alguém... Ela diz ter deixado os filhos em casa, necessitava ir ao médico, não sentia-se muito bem. Apenas uma avaliação rápida. "Quer que lhe pague um táxi?""Não há necessidade, os ponteiros hão de seguir em frente."

Os alunos começam a tomar seus lugares no ponto, o relógio da praça marca 22h. O movimento dos carros aumenta.

- O que você faria se soubesse que tem pouco tempo de vida?

Assalto? Doida? Ameaça? Faz-se de desentendida. Silêncio interrompido.

-Moça, o que você faria, se soubesse que vai morrer em poucos dias?

A chuva fria invade a área de espera. Parece ter aumentado. As palavras estão presas na garganta. Um vento frio passa-lhe pelas pernas cobertas por meio fina. A mulher se levanta, senta-se novamente, recosta no banco frio do ponto. Silêncio. Preocupada, consigo e com a mulher, observa-a recostada ao banco. Levanta-se. Pede socorro. Levam-na para o hospital.

-Tarde demais, morreu.

Lá pelas tantas, o celular toca, incessantemente. Lembra-se dos de casa. Do atraso.
" Mãe, cadê você?" Chama um táxi e segue para casa, enquanto , à caminho, procura resposta , não para a mulher do ponto, mas para si mesma.

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Sou um ponto Elemento visual real tantas vezes pequeno em relação a um plano maior. Um ponto que penetra espaços vazios de sentimentos emoções. Sozinha Sou apenas um ponto mas que ao aglutinar-me viajo no universos das possibilidades fusão do verbal com o visual na complexa sintaxe da vida.