domingo, 21 de novembro de 2010

SOB AS LENTES DE UM VISOR

Ao entrar na sala, deparei-me com três copos de boca virada para baixo, sobre a mesa , sequer uma toalha. Além dos elementos de sempre, armários, mesa, cadeiras e computador, apenas minha presença e os três copos. Fechei a porta e, frente a frente, pusemo-nos a nos contemplar.


Em relação a eles, era força maior, então resolvi sentar e ainda de frente, tentei imaginar o que faziam ali, naquela sala e mesa vazia de outros objetos. Imaginei-me com uma câmera em mãos. Na impossibilidade, pequei um pedaço de papelão, que servia de descanso para o mouse e fiz um pequeno visor. A partir da imaginação comecei a focar diferentes possibilidades de fotografá-los.


Lembre-me das aulas de desenho. Ainda com visor em mãos, fui até o armário, que fica em um dos cantos da sala e comecei a desenhar os copos, a partir do campo de visão permitido pelo visor. Primeiro de frente; depois lateral e finalmente, esquina.
Uma tarefa não muito fácil. Se frente a frente, sem o visor , eram apenas três copos sobre a mesa, dentro do campo do visor, pareciam maiores. Como retratá-los dentre de tão pouco espaço? Ao observar o desenho, vi que os copos pareciam ter tamanhos quase idênticos aos do modelo. Que embora sobre a mesa os espaços fosse idênticos, no desenho entre um e outro, percebia espaço maior. Não era uma réplica perfeita.


Ao tentar representá-los em fila indiana, o desafio foi ainda maior. Se o espaço do visor era limitado, no desenho torna-se bastante amplo. No campo do visor , no entanto, a imagem torna-se perfeita. No desenho, o fundo/espaço em branco ainda me incomoda. Em relação ao tamanho/forma, observo a relação de tamanho em referência com objeto em estudo.


Tentei um ângulo meio de esquina. Embora estáticos sobre a mesa, apenas eu a movimentar-me de cá para lá, percebo que adquirem vida. Quase que modelos para meu pequeno e simplório visor. Capto melhores ângulos. Um sopro e eles estariam debaixo da mesa e eu sem meus modelos fixos... Fico a imaginar a capacidade de focar modelos vivos e os móveis, estes ainda mais difíceis, dado a capacidade de domínio sobre os fixos.


Imagino se alguém abrisse a porte e se deparasse comigo e meus aparatos e ainda tivesse que apresentar meus modelos fixos..mas é uma universidade, aqui é comum a quase todos o campo de observação, experimentos bastando apenas justificar o porquê de tantos imaginários flash e focos.


Uma vez desviado o foco de atenção, lembro-me dos estudos de Curtis, 1978:11, quando ao parafrasear Sartre afirmou que “Toda imagem sempre implica a uma física”. Se tivesse uma câmera de vídeo em mãos, os copos certamente adquiriram vida, de bi para tridimensional, mesmo silenciosos, quase com congelados no tempo e espaço.


Se considerados apenas o contexto,era apenas três copos descartáveis sobre uma mesa de madeira, num ambiente fechado e com iluminação artificial. Porém, visto sob o enquadramento de um visor tornam-se elementos físicos capazes de serem captados e recriados fora de seu local de origem, adquirindo forma e representatividade dentro de um contexto então, ficcional.


Percebo que executo um ritual pré-fotográfico ao desenhá-los dentro de seu tempo espaço: três copos de boca para baixo para, dentro porém do enquadramento das lentes imaginárias de um visor. Quatro linhas e três elementos versus uma folha e muitos espaços em branco.


Penso que o ato de fotografar não compromete o desenhar, mas percebo que este permite complementações, exige técnicas para que os elementos não se tornem soltos nos espaços, enquanto que a fotografia possui um campo mais amplo de visão, valendo-se ainda , talvez, do que tenha sido meu mote inicial: a subjetividade do olhar.

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Sou um ponto Elemento visual real tantas vezes pequeno em relação a um plano maior. Um ponto que penetra espaços vazios de sentimentos emoções. Sozinha Sou apenas um ponto mas que ao aglutinar-me viajo no universos das possibilidades fusão do verbal com o visual na complexa sintaxe da vida.