“ Conhecer é colocar em proporção aquilo que se quer conhecer com o que já se sabe.” Nicolau de Cusa
1- INTRODUÇÃO
Até onde pode chegar o conhecimento humano? Por meio de quais processos realiza-se o conhecimento? De que forma o ensino de Artes pode contribuir na formação cognitiva ampliando a aquisição do conhecimento?
São indagações que, professores e estudiosos de todos os tempos e contextos procuram responder, para que se atenda à proposta do ensino de Artes, voltada, neste estudo, para a Educação Infantil.
Considerando a Arte no Universo da educação Infantil quanto ao Brincar, Cuidar e Aprender , observa-se que esta deve estar aliada ao que a criança convive, quando o
ensino/reflexão, certamente deverá ser “conduzido pela prática, fruição e contextualização da arte no mundo da criança.”p.10
Desta forma, o papel do arte-educador ultrapassa os limites de elementos capazes de transmitir conhecimentos, nesta fase, para torna-se um filósofo de seu tempo, quando lhes são cabíveis oportunidade de refletir, analisar e proporcionar a seus discípulos ampliação dos conhecimentos, em dialogo com a contexto no qual estão inseridos, de forma que passem os mesmos de meros aprendizes a multiplicadores do conhecimento.
Uma utopia? Talvez, se considerado o descaso e, quantas vezes, total falta de conhecimento quanto ao poder da arte-educação, no aprimorar, não somente dotes inatos as crianças, mas pelo fato de proporcionar aos e, desde pequenos, a reflexão, a percepção e análise. Possibilidade de, a partir de um simples desenho, realizar a análise de cores e formas, compreender-se inserido no universo das possibilidades, estas que vão da percepção sócio-cultural ao ato de criação, esta que dialoga com seu tempo, reflexo do que vive e sente.
2- REFLEXÃO SOBRE O ENSINO
Em busca de melhorias e adaptações de ensino, a prática do estágio torna-se fundamental para aqueles que pretendem ser inseridos no contexto educacional, quando profissionais já atuantes e leigos, vem-se diante de desafios e conquistas, devido à singularidade do ser, e que, não diferente do adulto, manifestam suas emoções, perspectivas de vida e melhor, são canetas que um dia, hão de escrever suas próprias histórias.
Escritores, portanto de seu tempo, precisam ser respeitados e desde cedo, inseridos no universo das possibilidades, “uma vez que a compreensão da criança é aliada à compreensão do adulto, pois a mente da criança é a mesma do adulto (Karmiloff). Motivo pelo qual não se deve menosprezar o ato criativo e de reflexão dos pequenos iniciantes, até porque, em seus desenhos tantas vezes considerados “ insignificantes” consta toda uma trajetória de vida, e sonhos e perspectivas de aprendizagem a serem construídas.
Para o Arte-educador, avaliar práticas educativas em dias em que a mídia e tecnologia invadem o universo infantil, requer dos mesmos, conhecimento da prática de ensino, e ainda, por estar a prática voltada mais para o ato criativo, reflexão sobre o desenho, sobre a produção e processo de criação, pois o que se evidencia nos registros infantis, transcede ao verbal, “é local onde a palavra e escrita verbal não conseguem sucesso muito convincente” (Merleau, 2007).
E quais e, de que forma tem sido realizadas as propostas educativas quanto ao ensino da arte da educação infantil? Que efeitos são esperados e alcançados? Momento em que se é válido citar experiências publicadas em Periódicos e Anais de Congressos, e, porque não, de professores iniciantes que, motivados por seus precursores, também, se arriscam no universo da pesquisa, em busca de diálogo, resposta e respeito para com o trabalho das crianças.
3- ALGUMAS PROPOSTAS ARTE-EDUCATIVAS
Pela lei, 5692, desde 1971, a disciplina de Educação Artística tornou-se parte dos Currículos Escolares e, desde então, muitas tem sido as propostas e projetos educativos oferecidos, que privilegiam , obviamente o entrelaçamento da prática – teoria. A exemplo do Projeto Arte e Cultura, desenvolvido em diferentes escolas e níveis, pela professora de Língua Portuguesa e aluna de Artes Visuais, com foco voltado à forma como se dá a receptividade, interação, desenvolver da percepção e criação.
Tendo como foco a alfabetização visual, a pesquisa e a expansão do conceito de cultura e ainda, o processo lúdico como elemento fundamental no ato criativo, o referido projeto volta-se para a receptividade do ensino da arte, a forma como cada indivíduo reage, participa e acrescenta informações, desde séries iniciais a finais.
Uma proposta certamente audaz, mas que permite perceber ser/estar o indivíduo, em todos os momentos e contextos , em condições de analisar compreender e responder, de forma criativa, a situações que envolvem conhecimento e produção.
Inicialmente, o referido projeto voltava-se para o ensino fundamental II e ensino médio, devido área de atuação do pesquisador, o que favorece a aplicação, devido as produções e diálogo nesta fase serem permeados pelo entendimento, facilidades de interação informação inicial e produção final. Proposta esta, no entanto que se torna desafiadora, quando se caminha para o ensino em séries iniciais, mais precisamente, educação infantil, ou seja, o pré. Devido a fatores que vão desde a não preparação para o trabalho com estas séries, a reflexão quanto à produção final, ou seja, como saber se a criança assimilou, pelas histórias e imagens visualizadas, o que se pretendeu passar? E como considerar os famosos “ rabiscos” expressão de sua compreensão?
Em sequência a uma proposta iniciada, nas séries iniciais, quando ainda aluna de Letras, voltada para a lingüística, surge, devido a prática de estágio supervisionado em Artes, a oportunidade de continuidade do mesmo. Momento em que se observa , a partir de uma mote central, a forma como os pequenos interagem em perfeita sintonia com os de series finais. O que permitiu a conclusão, foi a possibilidade de avaliar forma como os pequenos observam, comentam e produzem a partir do que observam.
Se as produções das séries finais são mais ousadas, pode-se dizer que as de séries iniciais são mais autenticas. Quase não se observa cópias, mas fluição do que se viu, diferente dos finais, que presos ao estético, ou mesmo, significante emociona/cognitivo, preferem parafrasear, quase que copiar modelos pré-existentes.
Alguns trabalhos, realizadas com temas específicos a todas as escolas e fases, permitem observar que o arte-educador pode unir a produção de fases infantis com finais, sem comprometimento do fazer final, quando estética e conhecimento precisam dialogar para alcançar os objetivos, tal como na semana de consciência negra, quando os recortes das , privilegiando as formas geométricas, cores, contribuíram na produção de mascaras, tambores.
Em relação à prática voltada para o estágio, por estar em andamento a referida proposta e, por motivos que vão desde a abertura de espaço para aplicação do projeto proposto a sintonia com calendário escolar,desde as aulas iniciais é possível observar que a maioria das crianças estão abertas a novos conhecimentos. Desde o contato com a história da vida do artista em estudo, a visualização das imagens, as crianças interferem, comparam, manifestam opiniões, e melhor, comentam com seus familiares o que viram, aprenderam nas aulas.
O que vale ressaltar a importância de unir conteúdos a serem estudados com a realidade social o qual se está inserido, quando profissionais de outras disciplinas contribuem na pesquisa e fixação de valores a qual se deseja focar, fortalecer. Afinal, de que adiante conhecer obras e artista importantes, dentro de determinados contextos, sem reconhecimento de práticas culturais locais?
Não se foi possível chegar ainda, a uma produção final, mas vê-se que os mesmo possuem uma visão clara de que artista não é somente aquele que lhes é apresentado, mas em sua inocência, talvez, consideram-se capazes de fazer igual ou tão melhor que eles, quando pegam suas folhas e nos mostram suas bolinhas, rabiscos e dizem: aqui, tia, está mulher ( rabisco) aqui á a minha mãe, ou as vezes, é você ensinando pra gente . Ou em consideração ao Miró, após observarem as obras, alguns arriscam: esta foto tem bolinhas, ta cheia de rabisco...que coisas são estas? Sem perceberem alguns, dentro das limitações aqui analisadas, semelhanças com seus desenhos.
4- CONCLUSÃO
Certamente que o assunto não se encerra aqui, mas dado o espaço e proposta sugerida de relatório sobre as aulas de artes no estágio e possibilidade de outros exemplos de práticas de ensino, procurou-se destacar a importância da consonância da prática do ensino de Artes com o contemporâneo, quando a pesquisa, cultura local e a ludicidade refletem na produção do aluno.