sábado, 4 de junho de 2011

Ao meu tio: José Carlos

O tempo corre.
Silencioso, se esvai por entre os dedos
enquanto, invade a alma,
instala-se dentro do peito
enorme sentimento de insatisfação...
Entre as tênues linhas do cotidiano e pensamento,
constroem-se trajetórias.
Em vão, tantas vezes, carrega-se agendas, calendários, anotações na geladeira, portas, carro, quando sempre ficam para trás eventos que, nunca deveriam ser considerados menos importantes, por estarem ligados diretamente aos sonhos, ideais, pessoas a quem se ama.
Logo cedo, prioriza-se.
determina-se tempo para um telefonema,
um parabéns,
uma breve visita,
um alô, apenas.
Reserva-se espaço para um momento, breve que seja, em adquirir novos conhecimentos, uma palavra nova do dicionário,
o aniversariante do dia,o amigo que não se vê a muito tempo e,
no entanto,ao findar o dia, ver que de nada adiantou listar isto ou aquilo,
quando somente se concretizam o fazer de outros.
O privar-se do bate-papo com amigos,
da conversa jogada fora da hora do lanche,
de simplesmente, ver a hora passar
versus o ter que
acordartomarbanhotomarcafépegarocarrodarbomdiapromotoristadescerdocarrotrabalhar
almoçartrabalharbateropontopegarocarrootransitoavoltaaolarobanhoolancheestuda
revertvdarcoloaofilhjoafilhadeitaracordar...
Quando se vê, não adianta mais dar parabéns,
o abraço em quem não se via há tanto tempo
a plataforma já fechou,
o familiar se foi
a família desmembrou-se
o elo com Deus se desfez
o dia acabou ou mesmo começou e,
levados pelo vento,
se foram os sonhos,
as possibilidades de conquistas,
o desejo, até mesmo,
de voltar as páginas da vida...
Cinquenta anos tornam-se cinquenta dias; amigos, familiares, tornam-se pontos finais.
Fica no silêncio da madrugada, da noite de vento frio e forte, este que força os vidros das janelas a certeza de que em vão passa-se a vida, quando o tempo a domina. Não se tem certeza mais de muita coisa, depois que as horas passam a ser registradas por uma agenda de páginas descartáveis, relógios presentificam passado e futuro, enquanto o ir e vir é feito de forma tão automática que já não se importa se faz sol ou chuva...
quando se percebe
haver um corpo,
mas sem alma;
terem sido
retirados do mesmo
sentimentos,
eliminados qualquer tipo de esperança,
apenas o tic-tac ora apressado, ora acalentado
alojado dentro da grande máquina
que se tornou o ser modernos.




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Quem sou eu

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Sou um ponto Elemento visual real tantas vezes pequeno em relação a um plano maior. Um ponto que penetra espaços vazios de sentimentos emoções. Sozinha Sou apenas um ponto mas que ao aglutinar-me viajo no universos das possibilidades fusão do verbal com o visual na complexa sintaxe da vida.