É cuidar do jardim para que elas venham até você."
[Mário Quintana]
Amo violetas. Ganhei poucas e morreram todas. Uma delas, acompanhou-me por muitos anos, até que, ao regressar de uma viagem, por falta de cuidado , empregadas, sabe como é, não a pude mais ver. Não sei como se deu a partida. Talvez tenha sentido minha falta, assim como eu, todas as manhãs, e se desfez no ar. Outras, as folhas foram perdendo o viço, ganhando aspecto meio de ferrugem, e foram caindo uma a uma.Cogitaram ser algum inseto que as possa ter contaminado, acho que o ar quente do asfalto, a poeira da rua, o ver-se presa entre as grades, embora cercada de árvores, tenha contribuído para sua partida.
Não sei explicar o que tanto me encanta nelas: a mistura de cores ou a fragilidade... Sei que tem o poder de me fazer chorar. Não , choro de mágoa ou desancanto, mas um mister de solidão e solicitude.
Apesar da beleza, não possuem perfume. Não são como as rosas. São verdadeiramente delicadas, até mesmo no exalar. Quantas vezes comprei saches que pudessem fazer companhia a elas. Abria a janela, a cortina, deixava entrar o brilho do sol na varanda e perfumava o ambiente com aromas de violeta. Se fazia bem a elas não sei, a mim eram momentos de extrema estrepolia. Coisas de quem não tem nada para fazer nas tardes de domingo...distantes tempos..
Violetas, a tempos não as ganho, compro, admiro. Terei deixado de lado a simplicidade da vida? Na escola, ainda menina, aprendi a cantar: roses are red, violets are blue... e cantarolava pelo caminho de volta para casa. Nunca fui boa em traduzir , mas era capaz de captar estados de alma.
A violeta que, por muito tempo me acompanhou , foi dada por uma pessoa não muito amiga. Amiga oculta. Na hora, pensei: uma flor tão delicada , doada por alguém tão cheia de espinhos... No entanto, foi a flor que mais durou.
Não foi a primeira que chegou, mas a que por muito tempo permeou minhas fantasias, fez-me olhar para ela com olhar jamais partilhado.
Violetas...cumpriu a missão àquela que se foi ; ficou, porém, o vazio na janela.
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