domingo, 24 de maio de 2009

Violência doméstica: atentado contra a dignidade humana. A vida.

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Por Verônica Eugenio


A violência doméstica não acontece de uma hora para outra. Não é somente o ato de ser agredida fisicamente, por ter o agressor bebido um pouco mais, passar por problemas financeiros. Não se apresenta somente em formas de hematomas, feridas. A alma também traz consigo cicatrizes, que jamais serão apagadas. O ato de agredir física ou verbalmente outra pessoa, habita no comportamento de quem a planta e, sabe Deus em que momento da vida, emerge das entranhas do abismo. O possível agressor, quase nunca se manifesta em público. Em alguma parte de seu ser alimenta, cultiva sensações de prazer em ver o outro sofrer e , na maioria das vezes, a colheita se faz progressiva e secretamente.


Ataques de ciúmes. Pequenos comentários. Atitudes agressivas. Desrespeito. Afrontas, Cobranças. Comportamento indigno. Exigências. Gritos. Imposição de idéias e ideais. O não direito de manifestação. Ameaças. Maus-tratos. Ignorância. Desafeto. Desamor.
O medo é sempre um constante companheiro das vítimas. As ameaças podem ir desde de uma simples negativa de comprar alimentos para casa, merendas escolares aos filhos, à medidas mais abusivas, como não permitir que a vítima se alimente, permaneça trancada em algum cômodo, seja privada de ver os familiares, terem os próprios filhos afastados de seu convívio, ser privada de ir a determinados locais e festas.


Por mais surreal que pareça, que se assemelhem a temas de novelas, inúmeras são as formas de agressões sofridas, não somente pela esposa, mas tantas vezes pelos filhos, que presenciam cenas de insultos , achando comum as freqüentes agressões. Ás vezes se calam por medo de se afastarem de seus pais, tornam-se tantas vezes agressivos na escola, com os amigos. Alguns agressores, , mais precavidos , limitam sua violência a quatro paredes, não deixam marcas visíveis no corpo e sequer imaginam, parentes e amigos, as feridas ocultas na alma, cobertas por belos tecidos e jóias.


Muitos são os questionamentos ao se descobrir vitima de violência domestica. Muito comum é surgir sentimento de culpa. Delegar a si própria, defeitos, incapacidades, temperamentos, assumir não ser exemplo de mulher cristã, de submissão. Assumir as rédeas financeiras da casa, trabalhar horas a fio, como forma de evitar o encontro. Passar o menor tempo possível na mira do inimigo. O sentimento de vergonha, insuficiência, invalidez ao se reconhecer vítima de agressão é um fato, quando se resolve tomar uma atitude contra aquele que não tem limites quando o assunto é constranger, ameaçar, agredir.


Mulheres que convivem com a dor, o medo, o pânico, às vezes sem comentar, deixar transparecer, para não perder o status, não sofrer represálias, não ser taxada de desequilibrada, ser considerada estúpida, já que a mulher sábia edifica sua casa. E leva-se tempo , às vezes, até que a mulher reconheça ser necessário tomar uma atitude em favor de si mesma, dos filhos.


O apoio da família, dos amigos, é importantíssimo, uma vez que os filhos quase sempre se revoltam, não acreditam que o herói, já que muitos cônjuges não apresentam sinais de agressores, tenha se transformado em vilão. O medo de ter a vida tolhida, de ser perseguida, de ver os filhos serem levados, tantas vezes faz com que algumas mulheres voltem atrás de sua decisão. Embora seja eficiente a justiça, ainda não consegue evitar que o agressor, retire a vida de suas presas, faça ameaças,desapareçam com os filhos.


Violência doméstica não é um fato atual. Sempre existiu. Antes se fazia menos presente devido à situação de submissão e dependência feminina.Divulgação. Com a necessidade de ajudar o companheiro nas despesas do lar, ao ter acesso ao mercado de trabalho, de se ver capaz de cuidar de si e dos filhos, talvez tenha aumentado o índice de violência ou mesmo mudado a forma como ocorre. A tripla jornada, a falta de maturidade do cônjuge, o pouco tempo passado juntos, a falta de diálogo, a crise financeiras, a bebida, o álcool, o desequilíbrio emocional da parceira, o abandono ou dedicação as práticas religiosas, o ser ou não bela, o cardápio, a novela, a roupa mal passada, por passar, o fato de ser boa dona de casa, não ser dedicada e carinhosa, frígida, infiel, são motes comuns apresentados pelos agressores.


Ainda bem que a necessidade não justifica a atitude e a justiça esteja aberta a quem a procurar. Seja a que horas for. Ainda bem que embora se tenha passado anos e anos escondida atrás do véu, este se rasque e seja possível contemplar a face a face o agressor. O medo existe. A dor, não será menor do que a das agressões sofridas. As lágrimas não serão menos salgadas. As cicatrizes trazidas no corpo poderão não se apagar, mas a alma, esta poderá finalmente navegar rumo ao etéreo. A vida, pouco a pouco ganhará novos tons. Aos poucos tudo se ajeita. Feita a denúncia, tomada a decisão de libertar-se dos grilhões que aprisionavam a alma, o ser, é hora de cuidar da mente, do espírito. Semear amor e paz no coração, principalmente dos filhos que, pouco a pouco perceberão que a vida é feita de príncipes que viram sapos; princesas que viram bruxas e , quem sabe, vilões que , ao ficarem frente a frente com quem tem, realmente o poder, descubram que amor e respeito não são bens adquiridos, mas conquistados no convívio sadio do dia a dia.

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