
Há dias não escrevo. Escrevo, mas na verdade são textos puramente, técnicos. Carregados de racionalidade e reflexão. As vezes, sinto falta do subjetivismo, do romantismo, de qualquer figura de linguagem que desperte nas palavras, sons adormecidos. As vezes, entre um texto e outro, deixo escorregar um pouco de emoção. Basta-nos as areias que entram por nossos sapatos, embaçam nossos olhos, arranham nossas palavras...Mas nem sempre há emoções suficientes para recarregar a bateria de meu coração...
E como anda descompassado este mecanismo. Será porque confio muito nas pessoas ? Vai saber...na verdade são tantos os motivos que nos afastam de nós mesmos, de nosssas possibilidades e não adianta jogar a culpa em terceiros. Coração dos outros , sempre diz minha desconfiada mãe, é terra que ninguém anda...
Esta semana, mais uma vez, me decepcionei...e sofri. Nem tanto, se comparada as vezes anteriores, mas sofri. Não teve sequer lágrimas, dor, revolta, foi como se , mais uma vez, tirassem algo de mim. Não de minhas mãos, mas de dentro de meu coração. Assim como criança que traz consigo um cesto de doces e de repente, um a um fossem sendo levados...retirados...jogados ao vento.
Ainda bem que tenho meu trabalho diretamente ligado aos adolescentes, inúmeros adolescentes...estes são sempre cheios de esperança e sonhos. E tento não decepcioná-los, quando relatam suas trajetórias de vida. E, quase que dizendo a mim mesma, os faço acreditar que tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.
O que me faz lembrar de um cântico antigo que diz: fica sempre/ um pouco de perfume/nas mãos que oferecem rosas - dos que doam ou dos que recebem? Ambos? Esta é a esperança, creio, dos que acreditam na força do amor, da caridade, do gesto singelo, da expressão de amizade, do apenas existir, momentaneamente, na vida de alguém.
O que me faz refletir, ainda, nas vezes que deixei de falar o que deveria ter sido dito. Não na explosão da emoção, tantas vezes da irritação. Mas não falar que apesar de tudo, ainda creio e crerei em mudanças, em possibilidads de se viver uma vida menos egoísta. Deixar de lado as diferenças e falar não das pedras que embaçam a visão, mas da bússula que guia o coração: o amor. Não o amor entre um homem e uma mulher, mas o amor universal, capaz de doar a vida, lembrar-se do outro, crer, perdoar.
E fico muito triste...triste demais, por saber que mais uma vez, me deixei entristecer com coisas tão pequenas; por não ter coragem de dizer que o perdão sempre será dado, que nada, poderá aumentar a distancia entre duas pessoas, que seguem o mesmo caminho nesta vida cheia de encruzilhadas.
E temo, que amanhã possa ser tarde demais, e que eu, ou tão pouco ela, possamos nos sentar à beira do rio e jogar aos peixes fragmentos de vida...realizar uma reflexão,percebendo ser a vida feita de gestos singelos e que cada palavra, expressão, são como flechas depositadas diretamente ao coração.
Esta semana, não foi mais ou menos dificil do que as outras. Mais uma vez, vejo ser necessário rever atitudes e providenciar o resgate daquilo que se esvai por entre os dedos. As vezes é preciso desinterrar coragem para não enterrar tantaz vezes, palavras não ditas, por medo ou orgulho. Percebo que na vida, o que importa não é a quantidade de bagagem que acumulamos, mas as que jogamos fora no decorrer da caminhada.
Manhã de sábado...
A semana se foi. Dias de renovação. Que venham os pássaros alegrar meu coração. Que minha alma exale um cântico de esperança. Que meu desejo de paz, amor e alegria se completem no seu melhor estado de alma.