
Embora já tenha realizado tarefa semelhante com alunos, nunca havia desejado me auto-desenhar. E ao realizar tarefa semelhante, percebi o quanto se é difícil deparar o eu interior com o exterior. Aquilo que achamos que vemos do que realmente somos. Ou diz o lápis ser... O que me faz lembrar do belíssimo poema da minha amada Hilda Hilster: Sou esta mulher que anda comigo?
Desde o princípio surge o questionamento, o ter de confrontar duas faces antes nunca vistas: interior e exterior. Mente o espelho? O côncavo e o convexo... O ter que observar detalhes, linhas, tentar ajeitar aquilo que não se gosta e descobrir que as mãos não obedecem. Sim, parece que a essência domina os dedos, os olhos captam àquilo que, às vezes, o coração oculta, ou não quer ver...
Mas como mente este papel rasurado de linhas e que, inutilmente, deitei a borracha por diversas vezes. Sim, desculpe-me, mestre! Mas impossível desenhar aquilo que nunca se viu... E, ao terminar, o choque!
Esta não sou eu!
Devo ter tirado do fundo de minha mente, algo meio adormecido... imagem de infância, talvez uma professora chata ou apenas fruto do meu astigmatismo. Sempre falo com meu oftalmologista: aumenta o grau!!!
Mas não adianta. Agora terei que conviver com ela. É como se eu descobrisse uma irmã da noite para o dia e ainda me dissessem: são gêmeas! E fico aqui a contemplá-la. Ela com seus imensos olhos, quase que desejosa de saltar do papel. Eu e minhas minúsculas meninas dos olhos, querendo esconder-se ainda mais de tão enigmático olhar.
Penso na finalidade da atividade, no foco do curso e vejo que a cada módulo algo de novo surge, mas não no papel, mas sim, nas mãos, no olhar, no modo de pensar. É como se tivesse tesouras em lugar de dedos e tivesse que me adaptar ao novo ritmo de vida.
O ter que conviver a cada módulo com mãos que falam; olhos que vêem o que não viam antes, o pensar lento, falar e enxergar além da aparência do ser e das coisas. E fica mesmo o desejo de, até o fim do curso, ajeitar o desenho de forma que se pareça realmente comigo, ou pelo menos, com esta que surge a cada manhã no meu imenso espelho exterior. Afinal, não posso ser esta mulher que anda comigo....